Democracia à moda brasileira
- Micael Thomas Scunderlick
- 25 de fev.
- 3 min de leitura
Atualizado: 26 de fev.
Artigo escrito por Micael Thomas Scunderlick

Recentemente, o termo "Democracia" vem se popularizando, infelizmente não da maneira da qual deveria se popularizar; na verdade, vêm tomado popularidade não pelo que é, mas pelo que fazem parecer ser o que não é. Democracia vai muito além da aceitação irrestrita de um governo, ou de seus componentes, ou de figuras. Para além dessa medíocre afirmação baseada em achismos e, o que é o pior, cega subserviência a figuras políticas consolidadas em cargos estratégicos da estrutura estatal, há sim uma noção clara e muito bem estruturada sobre o significado da palavra “democracia”.
Democracia, do grego δημοκρατία, ou dēmos (povo) e kratos (poder), é o governo que se legitima pelo povo; ou seja, o povo o investe de poder não somente através do pleito, mas também de sua gestão, tornando mais claro que a legitimidade de um governo, que no Brasil também gere as estruturas do Estado (o Presidencialismo, cuja figura do presidente é tanto chefe de governo quanto chefe de Estado), transpassa a eleição e se concretiza principalmente na gestão. Ou seja: se legitimado pela eleição, não pode ser mantido se atenta contra a nação, prejudicando-a, seja por uma economia em déficit, seja por guerras, intentos contra a liberdade ou qualquer que seja o problema desencadeado pela gestão que comanda as engrenagens do governo e do Estado.
O que vemos hoje é justamente o contrário; estes que hoje encabeçam a estrutura governamental e de Estado sustentam-se, auxiliados por mecanismos de mídia, pela eleição para acusar de “anti-democráticos” aqueles que, vendo a situação cada vez mais precária de sua própria realidade, do mais rico ao mais pobre, se queixam das más decisões políticas e administrativas ou a interminável alta dos preços dos alimentos mais básicos, pois, de acordo com essa lavra de apoiadores do atual governo: “quem fala mal do governo, do presidente, é um autoritário”. Ainda que esses gritos histéricos venham de uma mínima quantidade da população, são esses, extremamente organizados, que fazem pressão numa maioria quase que absoluta de brasileiros que já imploram por ao menos uma melhora.
Democratas? Não, são apenas grupos de sanguessugas extremamente organizados que proclamam uma falsa democracia; democracia essa, tomada de assalto, que apenas lhes confira espaço na esfera política, que retire do debate público esses "autoritários" que ousam não aceitar sua hegemonia. Não à toa essa sentelha de bem-intencionados foram bem instruídos por Marx quando ele disse que: “Já antes vimos que o primeiro passo na revolução operária é a elevação do proletariado à classe dominante, a conquista da democracia pela luta”. A luta aqui não é sobre, ao primeiro momento, pegar em armas num levante contra todas as bases da sociedade, mas se infiltrar cada vez mais fundo nas estruturas dela, para que a influência sobre a sociedade seja a chave para alcançarem a revolução que tanto almejam. A democracia para a esquerda não é mais do que um trampolim, um mero meio pelo qual a revolução obrigatoriamente deve passar, e, por isso, deve-se valorizá-la no momento em que esta lhe confere espaço para atuar ativamente na política; valorizá-la pora ora, apenas para chutá-la no primeiro momento em que conquistar grande poder político. Lembre-se que o Partido Bolchevique era social-democrata.
A narrativa pode até ser de defesa desse ideal distorcido de democracia, mas na prática este atual governo não consegue disfarçar sua ânsia desenfreada por mais poder a fim de, com a estrutura que lhe é possível, transformar o Estado num leviatã cujos tentáculos se espalham sobre tudo e todos. A militância esquerdista e seus políticos, justificando a legitimidade do atual governo apenas por uma eleição polêmica, buscam o Estado total de uma forma tão perversa e lenta que faz valer a citação atribuída a Hayek: “a liberdade não se perde de vez, mas em fatias, como se corta um salame”.
O termo “Democracia” perdeu significado no vocabulário popular por conta da insistência da grande mídia e das Big Techs em atribuí-la à prática exercida pelos nossos algozes (esses últimos cujos donatários só “mudaram de lado” por pressão do atual governo americano encabeçado por Donald Trump). Estes "democratas", ansiando pelo Estado Total, implorando por cada vez mais e maiores intervenções na sociedade e na economia, que descaradamente tentam nos imputar a alcunha de "anti-democráticos" justamente por defender a democracia bem como ela é: ambiente do qual a liberdade deve ser exercida no debate público.
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